quarta-feira, 16 de novembro de 2011

À margem

De fora do pensamento fica-me a crise (mais de valores do que monetária, muito embora assim não o pareça), ficam as manifestações a inundarem as ruas de Lisboa. De fora, muito de vez em quando, ficam também os papéis do meu gabinete, as canetas gastas de tanto escrever recomendações, um parecer, uma análise, uma consulta. Ficam os estacionamentos preenchidos até relativamente metade da estrada, os falsos e muitas vezes provocadores moralismos de meio mundo.

Lá, no centro, em lugar de destaque, com um holofote grande a incidir-lhe sobre o longo cabelo que lhe desce pelas costas e nas mãos pousadas sobre o colo, fica-me o olhar dela.

"Uma semana inteira a olhá-la muito em segredo para que nem ela mesmo soubesse que só a cor dos seus olhos enchia a minha solidão". (Miguel Torga - Diário I, 1939)